quarta-feira, maio 29

Egocentricamente

Escrito por M. às 11:31
Que prazer mais egoísta


















Ontem me ocorreu um fato pouco agradável que me fez pensar um pouco sobre algumas atitudes que, tornaram-se, digamos, comuns no nosso dia a dia. 

Eu estava voltando para casa, após um curso que estou fazendo. Peguei o ônibus e, para meu desespero, não havia lugar vago à janela (eu adoro sentar perto da janela). Sentei na cadeira alta do segundo compartimento daqueles ônibus "sanfona". O percurso levaria mais ou menos uma hora até minha casa, mas era horário de pico, então levei trinta minutos ou mais a mais para chegar em casa. 

Quando eu estou dentro de um ônibus (infelizmente não possuo carro, ainda), meu pensamento costuma vaguear pelos mais diversos mundos e dimensões que há; quando isso não acontece, eu estou escutando uma música ou lendo um livro ou refletindo sobre a vida ou, até mesmo cochilando; é mais uma forma de matar o tempo. Como estava sentada na cadeira alta, quem está na cadeira atrás e abaixo de mim, pode colocar os pés nas barras de ferro que existem na parte de baixo da cadeira. Então, no ápice da minha distração, uma moça que sentou nessa cadeira atrás da minha, encostou seu joelho exatamente no espaço do encontro do assento com o encosto, tocando o meu traseiro e numa determinada curva, pressionou-os contra meu bumbum. 

Até aqui, tudo isso parece muito remoto e nada de absurdo. Realmente, nada disso foi verdadeiramente absurdo a meu ver. Não me incomodou tanto assim, até porque, era uma moça e não um homem - o que mudaria a situação para impertinência. Mas ainda assim, incomodou-me. Incomodou-me porque aquela ação desencadeou na minha cabeça diversas outras semelhantes, que ocorrem dentro de ônibus mesmo, para ser menos vaga. 

Há algum tempo, quando o mundo não era o que é hoje, quando ele ainda agia com educação, possivelmente uma ação como essa não aconteceria tão facilmente assim. Nesse tempo (que nem era meu tempo), ainda existia a educação como primeva atitude para com o outro, não que o mundo seja mal educado atualmente, mas o mundo já foi mais bem educado: a gentileza era um valor que a maioria cultivava e quem a tinha com certeza tinha o prazer de abraçá-la pois, gentileza gera gentileza, e nada mais do que justo querer tratar aquele da maneira como gostaríamos de ser tratados. Acredito que isso ocorria pelo fato das pessoas serem menos individualistas. Com a virada do século, ganhos foram conquistados, mas perdas também aconteceram. Assim, as coisas e pessoas mudaram. E mudaram bastante.

Ao pesquisar sobre o assunto, encontrei diversos blogs e num deles o argumento principal do autor foi a falta de ideologia que não possuímos nesse século de nossas vidas. Concordo. Quando no milênio passado muitos indivíduos se apegavam a uma causa, poderia ser constatado que elas se moviam em conjunto para que a alcançassem, impondo a ideologia ante seus desejos. É como se elas tivessem isso como princípio e o faziam todos os dias. Entretanto, pode-se perceber que ideologia atualmente é algo tão remoto que poucas pessoas sabem o que isso significa. De modo que "agem por suas próprias pernas", da maneira que bem entendem.

O que há é que nesse tempo passado grande parte das pessoas praticavam mais ações coletivas; eram bem mais comuns: se num ônibus entrasse um idoso, gentilmente, as pessoas abriam mão dos seus lugares para ele. Se alguma grávida ou mãe com criança de colo entrasse num coletivo, as pessoas dariam seus assentos para elas. Hoje, é mais comum alguém fechar os olhos diante dessas situações e fingir que está dormindo, porque é mais fácil e mais conveniente para quem está sentado. Porque é mais fácil fazer isso do que abrir mão de si pelo outro.

Se o para mim e por mim estivessem menos evidentes na vida das pessoas, se as pessoas (generalizando mesmo) pensassem mais no outro do que em si próprias, acredito que muito dos problemas que hoje são causados por esse egoísmo (guerras, violência, crueldade) seriam menos evidentes, pois o tratamento gentil seria recíproco, cada um viveria em harmonia com o outro e, principalmente, consigo próprio. Mas, claro, é utópico. Infelizmente, é muito difícil se chegar a isso, até porque, o Capitalismo é um modo de produção individualista macabro, a meu ver. E o que somos é consequência da solidificação desse sistema como general de nossas vidas.

O empurrar do joelho no meu traseiro me incomodou, mas não me fez ficar brava com a moça que havia feito isso, porque talvez não tenha sido de propósito. Essa ação foi uma ponta de lã para que eu começasse a desenrolar o novelo e chegasse até aqui. Foi uma ação tão insignificante à vista de alguns, mas para mim foi uma alegoria que desencadeou a reflexão sobre o egoísmo. Essas ações, gente, são pedaços de ações muito maiores que passam desapercebidas por nós, como a roubalheira do poder público (sim, muito egoísta).

Por fim: esse texto foi apenas um texto muito leigo e pouco profundo no assunto. Não quis entrar em detalhes no que diz respeito ao Capitalismo e a roubalheira do poder público, porque foi mais um desabafo do que eu acho que move a indiferença, a perversidade, o descaso, a violência, as guerras etc. por aí. Mas saibam que ainda que sejam comuns, tão presentes no nosso dia a dia, essas situações nunca deverão ser achadas normais.  

Um beijão :)

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